É difícil imaginar uma pessoa que nunca tenha mentido, mesmo que seja uma mentirinha pequenina e despretensiosa. O ser humano é dotado de fraquezas e imperfeições, sendo assim, é bastante razoável aceitar que cometamos, vez por outra, o pecado da mentira. Porém, é preciso ter cuidado. Precisamos avaliar até que ponto nossas mentiras podem interferir em fatos importantes, pois, a interferência pode causar danos e estes às vezes podem ser irreversíveis. Melhor mesmo é evitá-los, porque, cedo ou tarde, a verdade aparece e o mentiroso é desmascarado. Quando isso acontece, mesmo as maiores virtudes ficam comprometidas, porque em meio a um mar de mentiras, é impossível acreditar num oásis de verdade. Certamente, deve haver situações nas quais a mentira permaneça camuflada, mas essa camuflagem não consegue superar os seus próprios efeitos maléficos. O simples fato de se guardar no peito o segredo produzido por uma mentira pode levar uma pessoa aos patamares mais elevados da insegurança e do medo. Contudo, existem exceções. Conheço pessoas que têm na mentira sua melhor companhia. Suas afinidades com a mentira são tão estreitas, que já nem sabem quando estão mentindo e quando não estão. Assim vivem suas vidas de “Alices”. Enganam-se a si mesmos como aqueles que acreditam na sobrevivência de idéias vazias, justificativas infundadas e na complacência dos justos, em favor dos pecados originados na mentira. Afundam-se na crença solitária de suas afirmações, mas vêm-se condenados ao isolamento, pois, ainda que tarde, haverá de lhes faltar quem possa dar vazão às fantasias de suas mentiras. Nem os mal informados que são fáceis de serem manipulados, nem aqueles que vivem do cultivo de noticias fantasiosas e improcedentes haverão de lhes dar ouvidos, ainda que ambos, por estarem quase sempre presentes nas mais diversas manifestações, mesmo sem saber os propósitos destas, sejam geralmente conhecidos como massa de manobra. Entretanto, apesar de toda adversidade, alguns ainda afirmarão convictos, que mentem por uma causa nobre, mentem uma mentirinha sem maldade e sem dano e que encontram na mentira a capacidade de atenuar sofrimentos, já que a verdade, às vezes, pode ser cruel e causar sofrimento desnecessário. Com tais argumentos, valorizam e cultuam a mentira, elevando-a ao status de necessário mal menor. Neste argumento afirma-se que às vezes, uma pequena mentira pode trazer consolo a um coração machucado e que em certos momentos, de nada adiantaria a verdade, porque um espírito fragilizado precisa é de conforto e não de verdade. Surge aí uma pergunta: Será que vale a pena consolar com a maciez enganosa da mentira e depois ferir com o aço contundente da verdade? Não seria crueldade oferecer tratamentos tão antagônicos? Penso que se for necessário sofrer que seja já. Assim o tempo de recuperação será maior. Não adianta apagar as luzes para dar conforto aos olhos e ao mesmo tempo preparar a cilada com a ajuda da escuridão. Quem anda nas trevas não pode ser parceiro da luz. Não se pode ao mesmo tempo aliar-se à mentira e defender a verdade. Necessário faz-se escolher de qual lado ficar, pois entre a mentira e verdade o que existe é um abismo profundo. Portanto, seja verdadeiro. Seja verdadeiro nos sentimentos, nas palavras e principalmente nas atitudes. Procure unir sempre as três coisas para que uma seja respaldo da outra. Não permita que paire dúvida em seus atos, nem ofereça seus sentimentos ao julgamento do incrédulo, pois assim, ninguém ousará contestar suas palavras. Mas, se apesar de todo cuidado, cair em situação embaraçosa, se numa cilada colocarem-no em teste na tentativa de desacreditá-lo e torná-lo pequeno, não se desespere, siga seu caminho incólume, pois Deus estará do seu lado.